100 mil

100 mil.


Na rua, 

no asfalto,

no topo do prédio que não é nosso, 

naquele agitado morro, 

na fila do hospital

corre sangue na rua.

Praia • MarceloAzeva.com


Não mudam as cores da televisão.

No centro do país

segue como se não tivesse um arranhão.

Teu remédio engasgou o meu paladar,

seu cinismo mascarado no genocídio

 sufocou

o que antes poderia ter sido um amanhecer.


Hoje no brasil

já não se fala em nada de mal,

não se fala tragédia, de tristeza 

nem de coisa alguma

que não seja de profunda incerteza

mas,

hoje no brasil

morreram 100 mil.


E o povo segue no dilema

sair na rua e trabalhar,

ou ir na porta do hospital enfrentando a quarentena 

que para eles nunca existiu.


Hoje não se tem escolha no Brasil.

Hoje não existe mais esperança na pátria mãe gentil,

a mãe, obrigada a cuidar de filho q não é seu,

engasgou na sua tosse,

viu seu filho no mesmo asfalto 

que hoje passam menos pedestres.


Hoje estamos mais sós no Brasil.

Não se fala de futuro

só de inveja do patrão doentio.


Hoje, areia da praia caiu num mar frio, 

levou-se pelo descaso

e levou um pedaço de mim

um pedaço de nós

hoje no Brasil

morreram 100 mil.


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