100 mil
100 mil.
Na rua,
no asfalto,
no topo do prédio que não é nosso,
naquele agitado morro,
na fila do hospital
corre sangue na rua.
Não mudam as cores da televisão.
No centro do país
segue como se não tivesse um arranhão.
Teu remédio engasgou o meu paladar,
seu cinismo mascarado no genocídio
sufocou
o que antes poderia ter sido um amanhecer.
Hoje no brasil
já não se fala em nada de mal,
não se fala tragédia, de tristeza
nem de coisa alguma
que não seja de profunda incerteza
mas,
hoje no brasil
morreram 100 mil.
E o povo segue no dilema
sair na rua e trabalhar,
ou ir na porta do hospital enfrentando a quarentena
que para eles nunca existiu.
Hoje não se tem escolha no Brasil.
Hoje não existe mais esperança na pátria mãe gentil,
a mãe, obrigada a cuidar de filho q não é seu,
engasgou na sua tosse,
viu seu filho no mesmo asfalto
que hoje passam menos pedestres.
Hoje estamos mais sós no Brasil.
Não se fala de futuro
só de inveja do patrão doentio.
Hoje, areia da praia caiu num mar frio,
levou-se pelo descaso
e levou um pedaço de mim
um pedaço de nós
hoje no Brasil
morreram 100 mil.
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